Chamamentos (ou da inverdade na ficção)
Custa a acreditar. Nas séries de terror, os fantasmas, as almas, os não-vivos, enfim, são sempre chamados por uma qualquer prece em latim, Omnimus sirigaitis etcaetera et pluribus unum primus inter pares in nomine caesaris, e mais minuto menos minuto, lá estão eles a responder, invariavelmente, ao chamamento. Armados até aos dentes, ou apenas com um mau feitio muito grande, já se sabe que alguém vai morrer afogado, com uma enxada na cabeça ou com os pauzinhos do chinês enfiados pelas narinas acima. Contudo, creio haver aqui dois contra-sensos básicos:
Por um lado, se eu tivesse que chamar um fantasma a partir de um livro escrito em latim, com certeza que haveria falta de comparência, obviamente penalizada com três pontos negativos, pois a minha leitura do mesmo seria tão risível e incompreensível que as alminhas re-morriam a rir em vez de vir matar alguém. O que, claro, nos traz à questão: porque é que respondem sempre aos amaricanos, que quando os ouvimos a falar parecem uns leitõezinhos simpáticos a grunhir enquanto têm vitaminas para desfazer por baixo da língua?
Por outro, pergunto: será que têm mesmo que responder sempre à convocatória do seleccionador? Para assassinar, na esmagadora maioria dos casos? Não podem eles ficar descansadinhos, na sua meia-vida? A fazer tricot, jogar damas, qualquer coisa do género? Pede-se um pouco de respeito pela liberdade de opinião e comportamento de qualquer género de entidade. Até parece. Quando me chamam para ir comer a sopa, em português bem explícito, isso não quer dizer que eu vá logo feito cachorrinho já com a colher na mão, pois não?
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