26.10.07

Putin que pariu mais à матрёшка*

Está uma pessoa a almoçar e aparecem os três. Um, de calças arragaçadas, pronto para apanhar ameijoa ou percebes ali na costa alentejana. O outro, ar gingão, comprometido, com ar de матрёшка (o que é a mesma coisa que Matryoshka, ou Matrioska, ou Mat...lá tenho eu que abrir outra vez o separador da Wikipedia para ver como é que se escreve), sem se mexer muito, qual "Zé sempre em pé" a pensar que raio faço eu aqui ao lado destes meninos que ainda falam em democracia e direitos humanos. Por favor, que ridículos. Mas este Convento de Mafra, sim senhor, que coisinha bonita e agradável. Deixa cá ver se oriento aqui um item à maneira lá pra casita na Chechénia. Olha que estes gajos não se safam mal. Faltava o Zé Manel, porreiro pá, tudo tratadinho, à maneira, arzinho de texugo bem cheinho. Impecável.

Dezenas de cidadãos ucranianos, moldavos e russos que vivem em Portugal, muito felizes por poderem ver Vladimir Putin, concentraram-se junto aos cordões de segurança impostos pelas forças da ordem diziam os jornalistas. Pois, muito felizes porque vivem cá. E por estarem do lado de lá do cordão.

Um pequeno apontamento: fico contente que a Sic Notícias pense nas pessoas e confie nas suas extraordinárias capacidades intelectuais deixando-nos ouvir um russo perfeito durante 20 minutos, mas como ainda só sei dizer o meu nome naquele idioma, que é B. com um acento assim estranho, preferi ouvir o discurso traduzido na RTPn. Só por uma questão de raciocínio.

*Matryoshka, ou Matrioska, ou Matriosca.

23.10.07

Vitória (i)moral, vitória (im)oral

Renhêda. Peço desculpa, não me surgiram outras palavras.
Só esta.
Polga, que falta fizeste...
Mas que merda é aquela? A bola de um lado ao outro da área a passear por ali, uma e outra vez, volta, diverte-se. Porra. Passa por cima, passa por baixo. Salta. Desce. Rola. Chuta, não chuta. Parecia uma equipa de pessoal com disfunções motoras.
O Abel, um abelzinho. Abel, escuta: na Champions, com jogadores que valem dez vezes mais que tu, não se inventa, manda-se para fora. A bola jogável fica para mais tarde. Deixa lá, à custa de uma lição lá se foi mais um pontito. E estavas a jogar tão bem. Siga.
Gladstone, esteve lá? Djaló esteve lá? Paredes esteve lá?
Tiago, sim esteve lá. Ou não quando devia estar. E notou-se bem. É tramado, mas esta época estás acabado. Então passamos anos a ver se o Ricardo se começa a sair bem aos cruzamentos e fazes exactamente a mesma merda? Ou aprendeste com ele ou não estavas nos treinos quando estavam a explicar ao futuro bético. Processo disciplinar, já!
Ronny, põe-te fino ou vais de carrinho. Um lateral que parecia, parecia, parecia, parecia sei lá o quê!
Moutinho, joga, muito.
Romagnoli, minha nossa, que jogaço!
Miguel Veloso: gosta de enterrar uma vez por jogo. Felizmente não tem dado em nada. À parte disso, que classe.
Tonel, bem. Foste comido à força toda no segundo mas a culpa não é tua. Não estavas era à espera que o Abel fosse abelzinho naquele instante. Foi o efeito surpresa.

Levezinho, tivemos saudades da pulga atrás da orelha.

Certo, certo, é que mais uma já lá mora. E o resto são tretas.

Pouco me importa

que haja 5 mesas de um café ocupadas com estudantes universitários/as a jogar às cartas; pouco me importa que a Universidade toda cheire a vómito e mijo; pouco me importa que haja lixo por tudo quanto é lado; pouco me importa que não haja lugar para estacionar perto do trabalho; pouco me importa que a TMN faça uma promoção num site ao qual não se consegue aceder durante uma hora. Importa-me, sim, estar sentado numa mesa e uma miúda qualquer sem o mínimo de educação tirar uma cadeira sem perguntar no mínimo "posso?"
Qual velho do Restelo, à saída, "Eu não me importo que tires a cadeira. Mas devias perguntar, é uma questão de educação". O melhor: a cara de espanto, incredulidade, surpresa e, pasme-se, indignação com que acatou o recado. Mas a partir daí também já não sei muito bem. Virei costas e vim-me embora.

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Passam. Lestos. Uns após outros. Imparáveis. Eles, deitados, em cadeirinha. A cabeça dela repousada no braço dele. O relógio digital com projecção na parede vai assinalando. Faz-se tarde. Despertos. O silêncio. Não há música lá dentro, não há gatos com o cio lá fora. Nada. A vida. As minudências. As minudências da vida. Como vai ser? Pessoas em redor. Felicidade. Erros idos, caros. A recuperação, a reparação, lenta, mas determinada. As vozes denunciam-nos. Calmas, reflexivas, pensadas. Cúmplices. Olhos bem abertos. Ressoam as unhas dela nos pêlos do braço dele. Suaves. Ternas e compreensivas. Compreendidas. Encostam-se os corpos. É outro amor que se faz. Outro amor. Não aquele. Está na hora. Primeiro foi o susto. Depois o silêncio. A força. A audácia. Porque não é fácil. A possibilidade existe. O balanço, no balanço se constrói. Do equilíbrio.

19.10.07

É lindo,é lindo, é lindo!!! Quilhem-se pseudos, é das melhores publicidades que por cá apareceram!



E vale a pena ver os outros vídeos que as pessoas foram pondo no Youtube!

Coimbra Inovação Parque


Fonte (genial!):http://coimbraeumalicao.blogspot.com/2007/10/o-cartaz-da-latada-como-eu-o-vejo.html

16.10.07

Vingança

Tudo normal. Não há estacionamento. Tenta-se outro esquema, carro a 1km do local de trabalho. Passeata breve, célere, e lá se chegará em menos de nada. Sensato, certeiro, sinónimos outros. Um parque, árvores frondosas, sol que espreita por trás dos muros do quartel, fresquinho que faz bem à alma, banquinho de madeira com tinta amarfanhada, lago bem cuidado. Livro. É isto mesmo. Meia horinha de leitura ao sol, à fresca. Nas folhas, tonalidade verde-clara, ou verdes-claras, várias, umas outras que caem por ali abaixo para aterrar nos párabrisas dos carros que passam. Outono, na medida do possível. Era assim, bem me recordo. A divisória bem estabelecida das estações do ano. Primavera, Verão, Outono, Inverno. Sim, lembro-me bem. O caminho para a escola era feito, por esta altura, mesmo pelo meio (simétrico na medida do possível) dos amontoados de folhas castanhas ali despojadas. E era revolver aquilo tudo. Ah! Que maravilha.
Há pouco, vi cair umas quantas, afianço-vos. Não foi bem a mesma coisa. Fecha-se o livro, prossegue-se. Piqueno-almoço. MB. "Cartão Inválido. Card not good for use in Multibanco". Nem penses que me vais estragar esta manhã bonequito sorridente e irritante. Quando as notícias do MB não são boas devia mudar a expressão da figurilha para uma carantonha triste, no mínimo. Questão de solidariedade. Assim não. Más notícias com um sorriso? De nós. Para nós? Ainda ontem a Ariel me dizia que quando se sente triste, bota música deprê. Nem mais. Alivia a alma, sentirmo-nos ainda piores. Queremos ser miseráveis, miserabilistas, queremos ter pena de nós. Temos todo o direito a isso.
Siga. Não dá, não dá. Quem não tem dinheiro não tem vícios. Não se come. Ainda deu tempo para, casualmente, ver uma exposição de fotografia antiga e moderna da cidade de Coimbra. A Coimbra antiga e a Coimbra moderna, diga-se, não a fotografia. Vale bem a pena. Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra. Pequeno gosto: ver uma praia fluvial enorme, com imensos barquinhos à vela no rio Mondego, em frente do local onde hoje é o restaurante Itália. Estádio Cidade de Coimbra localizado onde outrora imperava um simpático terreno arborizado. Sorriso. Gostei. Muito.
CGD. Troca de cartão. Desta vez não paga. Melhor assim.

14.10.07

Está lá tudo, está aqui tudo, está aqui o país todo. Boa semana.


Foto: B

Pedras de gelo

Só faltou perfurar-lhe o corpo. A dor e o chofre que o granizo impôs nas suas oliveiras arruinaram a estética, as linhas suaves e esverdeadas, rendilhadas aqui e ali por bicadas dos pássaros. A fronteira intransponível da pele, a delas, reconvertida a coador. A redondil ficou toda furada. Mesmo assim estão lindas, todas carregadinhas, as abas delas parecem uma chuva suave, os olhos tocam-nas com carinho e as folhas ouvem as suas palavras ternas de franca recuperação.

10.10.07

É quase tão bom como o Pipi, o homem das bolas telecomandadas.

Ganhar alento

Quando a certeza de algo que não se voltará a repetir, recuperar tempos idos, saborosos, que perduraram para lá da Cimpor e da branca espuma das ondas. Isto era tudo, foi tudo.

"Recordo sim essa noite em que subimos a serra de luzes apagadas e lá do topo ficámos a ouvir e a cantar a Tempestade na cassete que rodava incansável como o farol que lá em baixo girava como as ondas que distantes espumavam em estoiros. Aos amigos, a nossa curta-metragem, o nosso cimento, fóssil na pedra."

9.10.07

Ensejo

Assim, semi-nu, encharcado no suor de uma corrida louca, num esforço totalmente inútil de não deixar um rasto que fosse, uma molécula, um cabelo, um suspiro, uma lágrima, um grito. Que o meu recorte neste chão, escuro, sem vida, sem interstícios, sem nuances, sem dor nem prazer, denso e imutável de mim se destacasse. Assim, Noa, no meio da estrada recentemente alcatroada, ainda quente do sol que nela descansou durante todo este dia, que levou víboras e sapos e osgas e salamandras pretas com pintas amarelas a atravessarem-na e nela se depositarem, mesmo assim, sou eu o único réptil que rasteja, correndo. Rastejo-me. Hoje, de má memória, ignóbil e abjecto, apresso-me, no único acto lúcido que neste momento me ocorre, a comer as raízes, envenenadas por certo, que estiveram no assentamento de todo o mal que te fiz.

Oxímoros pela manhã

Na rubrica de Internet da Antena 3 falaram acerca do site remodelado da MTV Portugal. Biografias mais extensas dos artistas, informações sobre concertos, passatempos, críticas sobre jogos de consolas. Deixei de ouvir quando me pediram para votar nos Buraka Som Sistema para a categoria de New Sounds of Europe. Era só o que faltava. Não gosto, não gosto, não gosto.

Do cabelo à culinária

Reparo que há um novo champô lá em casa com óleo de abacate e manteiga de Karité. Acho que nunca comi nada que fosse assim tão requintado.

Pulseira? Anel? Mala? Aquele top giríssimo?

Nada de novo, mas tudo novamente mal, difícil, inominável. Na hora da decisão, da escolha, da alternativa outra, aquele suspiro que indicia um pensamento, "que raio faço eu aqui?". É uma noção assustadora de querer, a todo o custo, corresponder às expectativas sabendo que estas estão, à partida, viciadas pelo circunstancialismo do que se afigura como uma tarefa impossível. "Mais valia ter ido para casa. Isto é uma vergonha. Como é que ela é?. Oh minha senhora, é a mulher que me preenche, é a mulher que eu quero. É tudo o que quero saber acerca dela. Na verdade, tudo o que sei acerca dela está nesta frase." Mas não basta. Certo e sabido.

Começa-se, então, a pensar num rol de actividades que poderia estar a praticar, a experimentar, a reviver. Não queria estar aqui. Poderia estar perfeitamente a fazer bolhinhas de sabão, com aqueles tubinhos que se vendem nas feiras. Tentar fazer aquela bolha gigante, e depois uma outra, tendo como objectivo último a união entre essa a outra entretanto insuflada. Ou meter a bolinha naqueles buraquinhos na tampa desses frasquinhos. Meter as duas bolinhas é que era mesmo difícil. E o cubo? Não hei-de morrer sem fazer aquilo. As corzinhas todas, chiça. Que trabalheira, aquilo sim, dá-me a volta ao miolo. A história dos castelos na areia não. Não, isso não que nunca tive jeito nenhum. Nem para isso nem para jogar às cartas. Nem jogos de estratégia e já agora, nem para negociar as coisas nas feiras. Levam-me sempre à certa, os sacanas. Jogar futebol, sim, futebol. Ou squash. Comecei a adorar squash. Porra, tenho também que arranjar o comutador para as colunas novas do portátil. Como é que aquela porcaria não funciona? Dá um gajo uma pipa de massa para chegar a casa e funcionarem 3 de 6 colunas. Ele há coisas...

A figura ridícula, continuo a fazê-la. Aquele sorriso forçado, semi-envergonhado, ao mesmo tempo que a senhora pensa "mais um que não percebe nada do que é que uma mulher quer". O sorrisinho sarcástico, o olhar de soslaio, aquela troca de palavras em surdina com a colega de trabalho seguida de uma risadinha enquanto olham as duas para mim. Tento refugiar-me, social e psicologicamente, dando aquele ar semi-distraído e/ou interessado enquanto ponho as mãos atrás das costas para observar o colar da última colecção na MD. Como vê, castanho, com um ornamento em metal lindíssimo e altamente invulgar, uma peça única. Única.

Única, a única escolha impossível, diria.

4.10.07

Oh João!

“Foi dos maiores choques da minha vida ver que aquela matéria causava um profundo mal-estar, era como um corpo estranho no corpo ético do PS."

"Oh João!" é também o nome de um talho por baixo do apartamento de um amigo meu.

É boa disposição e faz maravilhas à alma.


De cavalo para burro

Na Feira de S.Mateus, não a de Viseu, mas a de Elvas, que também é muito boa, tem imensos stands de automóveis e isso, diversões até, juntavam-se há cerca de 63, talvez 65 anos, ou mais ou menos, todas as famílias cujas vidas se desenrolavam nas cercanías daquela cidade. O evento não era para menos, a Feira de S. Mateus era o evento, i.e., a única altura de alguma agitação, folia e festividade num Alentejo miserável, trabalhador e explorado.

A duração: uma semana. As parentelas vinham nas suas carroças lá de muito longe, tipo 4 quilómetros, ou mais, 50, por exemplo, e juntavam-se todas nas redondezas da feira. Ali se pernoitava, comia e bebia. A gestão social era feita pelo animal tractor da carroça. Não seria o modelo destas últimas a condicionante ou indicativo do estrato social pertencente, mas o próprio quadrúpede. As três classes, como hoje temos os jipes, os utilitários, os comerciais e os Pandas e 4L, eram, por ordem decrescente, cavalos, machos, burros.

Numa das edições desta feira, um senhor, desprovido de qualquer preconceito, estacionou a carroça, com o asno de sua propriedade, junto a um grupo de fidalgos detentores de nobres equídeos e híbridos funcionais. A reacção, que não tardou um par de horas a surgir, veio de alguém da alta sociedade, cujo Equus caballus, de porte elevado e cor límpida, se encontrava em animado convívio (não tão animado assim) com o de estrato social inferior.

Com algum tipo de receio que o intercâmbio entre os animais pudesse conspurcar a limpidez e rígida estratificação social em vigor na altura, a ameaça ao proprietário do jumento foi breve, mas clara: "Ou você tira já daí o burro ou tratamos-lhe da saúde!"

O ameaçado, irado não só pela ameaça mas também pelo motivo da mesma, pegou na vara de marmeleiro com a qual estimulava o jerico, empunhou-a bem alto e disse: "ai querem-me tirar daqui mais a minha família por causa do burro?!Então venha de lá o primeiro!".

Esse senhor era o meu bisavô.

p.s. Nem o meu bisavô nem a família dele arredaram pé. Nem o burro, já agora.