29.11.07

Quatro vintes e dezanove



Keep your head up


Longos dias, duros dias

É uma operação difícil, complexa, impossível, a bem da verdade. Quando a vida o exige, é o que por vezes se tenta fazer. A fresh start. Vai-se às opções, apagam-se os cookies, a memória em cache, as palavras-passe e o histórico. Todos determinantes, tudo o que nos disse algo, o que nos construiu, o que somos. Mas por vezes, apesar da dor e da dificuldade que exige, é mesmo a única, talvez triste, com certeza triste, maneira de conseguirmos ser felizes de novo. Mas não queremos apagar tudo, não podemos apagar tudo. Por respeito, por saudade, por uma dor que não passa, porque retiraria sentido a todo o resto. Porque somos tudo isso. E porque não pode ser, não pode ser, pronto, ponto. Não existem outras opções, mas não me resigno, não me posso resignar. Não seria justo. Nada disto é justo. Hoje, sou mais amargo, tenho mais amargo. Nem um bocadinho.

Tenho tantas saudades tuas. Temos tantas saudades tuas.

28.11.07

No need to run away


Foto: Carlos Barradas. Título à conta deste senhor.Clicar para aumentar.

26.11.07

O primo da seringueira

Os pequenos, cónicos e arredondados resquícios em tons acizentados estavam espalhados por cima da secretária, irregularmente, conspurcando o tampo. E eram tão difíceis de remover. Estranho, dado que tinha fortes hábitos de limpeza impregnados. No seu corpo e nas extensões deste. A roupa, sempre lavadinha com um toque de amaciador no final, cheirinho a lavanda, bem engomada, e o monitor, sempre límpido e cristalino cada vez que iniciava uma sessão, onde ao pedido de palavra-passe era digitado "macramé". Sem dúvida, tinha estado a apagar algo de um livro, ou de uns livros. A senhora da limpeza, chegada às seis e meia desta segunda-feira e apanhada de surpresa por encontrar aquele chavascal, nada costumeiro naquela mesa, suspirou "há gente do pior, nunca se sabe o que esperar das pessoas". No entanto, há já três dias que ninguém sabia do Jaime. Uns diziam "eclipsou-se", outros, que tinha "desaparecido do mapa". Procuraram-no o fim-de-semana inteiro. Nada. Sem o saberem, estavam próximos da verdade. O Jaime, de tanto ímpeto que metera em apagar as linhas de um livro que tinha que devolver na biblioteca até às 19 pos meridian sob a ameaça de pagamento de uma multa de 0,67€, tinha-se apagado a si próprio, tendo começado, acidentalmente, no meio indicador esquerdo (não meio, na verdade só tinha perdido a falange) que ainda mantinha depois de perdida a outra metade, quando um esquilo queriducho o arrancou, juntamente com a avelã que ele cuidadosamente guardara no bolso superior do paletó, remanescente de um saco de frutos secos sortidos oferecido pela madrinha Doritas, da Baixa da Banheira por ocasião do 37º aniversário do seu baptismo na Igreja de Sernancelhe. Mas o Jaime era, acima de tudo, conhecido por ser um tipo altruísta. Facto que não se comprovara nesta última página da sua vida. Não tinha, até dado momento, apagado toda a sua história, mas o horror de enfrentar mais uma vez aquela bibliotecária que lhe parecia querer arrancar a cabeça de cada vez que entregava um livro depois do prazo foi o suficiente para ainda deixar escrito num post-it cobarde,

"Por favor devolvam o livro à bibli t

22.11.07

Sobre o bem-estar (cont.)





Sobre o bem-estar

O Sr. Prof. Simon Chadwick, da Coventry Business School, esqueceu-se de dizer: "Os campeonatos anteriores demonstram igualmente que a produtividade dos trabalhadores geralmente diminui a partir do momento em que se sabe que a selecção de Inglaterra vai defrontar a selecção de Portugal. É aqui que se começa a instalar o factor mal-estar".

20.11.07

A noite do fim do ano

foi, como todas as anteriores de há larga data a esta parte, categoricamente incluída no tópico "noites etílicas". Numa das últimas, já o saldo do telemóvel se tinha esgotado em votos de bom ano e muita saudinha, quando um casal amigo, no meio de fraternos abraços, tombou de umas escadas com cerca de 2 metros de altura numa calçada. Pânico generalizado. Chama-se o 112. Por alguma razão, à minha chamada é-me respondido que há que carregar o telemóvel, facto desde logo incompreensível dado que para ligar o 112 é gratuito.
Por acções que não as minhas, a ambulância lá chegou e levou os amigos, combalidos. Tudo impecável, passadas duas horas, com gaze e betadine, voltaram para a festa. Sem álcool.Só no dia seguinte, à tarde, e olhando para os números marcados, me apercebi que tinha estado a ligar ansiosamente para o 118 (informações).
Isto para dizer que essa gente que faz chamadas anónimas e falsas para o 112 devia era levar com uma marreta na cabeça durante um ano, já que se algo de mais grave se tivesse passado e não houvesse meios disponíveis para os socorrer, eu próprio me encarregaria de ajustar contas (não naquela noite, especificamente). Aliás, uma boa medida para acabar com essas chamadas era precisamente o INEM doar os números de telefone a quem sofreu directamente esses efeitos por vezes nefastos para se aplicar a bela da justiça popular. Siga.

A época

Luzinhas, esparsas, ligeiras centelhas difundidas por um manto post mortem da temporada estival. Cantares com panos à cabeça que atravessam as planuras retalhadas, as mulheres contratadas para a azeitona, varejam, varejam, escoradas por escadas de madeira e pelos êros que irão receber sobre os panos estendidos, manchados, que tantas épocas já fizeram.

17.11.07

Pré-Natal

Sim, o Natal está aí à porta, ou ao portão, melhor dizendo. Os casaquinhos começaram a sair dos armários, das caixas, fechadas, por baixo dos sommiers. São postos a arejar e compram-se batons para o cieiro (porque é que não se chamam batons contra o cieiro?). Os aquecedores, atrás da porta da despensa, são recuperados para as salas que não são abençoadas por lareiras, e o ritual cumpre-se. Ou cumprir-se-ia. É que, nesta pré-pré-pré-época de Natal, com os centros comerciais já enfeitados por Pais do mesmo, pinheiros com supostos flocos de neve, luzinhas, metros e metros de luzinhas, e trenós, a fantasia não se propaga para fora dos malls. Porque assim que saímos daqueles, está um sol de arrasar com 24º de temperatura ambiente.

16.11.07


Inverdades


O odor à terra saturada de água, o verde que há muito revezou o pasto seco, quebradiço, em tons acastanhados. A água, ainda moça e envergonhada, conduzida pelo ribeiro, transpõe com dificuldade as sinuosas e delicadas barreiras da terra áspera, pontuada aqui e ali por alguns girinos que nela se fazem viver. Nos dédalos dos olivais e das herdades, fungos que já viveram tudo a que tinham direito, cumpriram o seu ciclo e abandonam, com cores já esbatidas, os campos onde a partir de agora serão gerados outros seres e outras vidas. Tudo o que aqui está dito já foi outrora verdade. Hoje, agora, não o é.


14.11.07

Estou no sítio certo

mas com o livro errado, caríssimo. O repto é óptimo, mas constato que o parágrafo que contém a 5ª linha da dita pág. 161 do livro que neste momento leio, é o último do mesmo [Pirandello, Luigi ;Um, ninguém e cem mil]. Ele há coincidências. Ora, este é um exercício belo, mas complicado. Há largos anos (pelo menos 2) que tive que me forçar a perder o hábito de saltar 80 pág. para descobrir o fim de um livro, seja de culinária, seja de fotografia, estes últimos reservados para os aziagos dias de chuva (que actualmente desapareceram). Mas regras são regras, e eu sou um abelzinho que só joga dentro das quatro linhas:

"Pensar na morte, rezar. Ainda há quem tenha essa necessidade, e os sinos dão-lhe voz. Eu já não tenho essa necessidade, pois morro a cada instante, eu, e renasço novo e sem recordações: vivo e inteiro, já não dentro de mim, mas em casa coisa fora de mim."

Passo a corrente à Cris e à Confraria, que é um três em um.

Vazio

Agora que o governo conseguiu a aprovação da tão famigerada lei que permite a um aluno faltar às aulas a seu bel-prazer, i.e., gazetar (penso que o termo ainda será utilizado), que fazer ao espaço em branco deixado pelo famoso Gazetómetro? Aqueles alunos artistas que na escola se gabavam de ter já 8 faltas a Matemática, 5 a Química e 6 a Inglês (a prof é uma tolinha), que estavam quase a chumbar e cujos quadradinhos preenchidos com cruzinhas não enganavam, onde poderão agora ir reclamar esse artífice da masculinidade juvenil?

9.11.07

Isto está mesmo mau...

é que só agora, 17 minutos depois, me apercebi que não era preciso trocar os "e"s por "i"s para engenheiro ser uma profissão com "i". Talvez seja melhor parar de trabalhar por hoje. Espero que estejam a dormir bem.

Melhor ainda...

é que passados dez minutos ainda me estou a rir que nem um perdido.

Quando à noite...

o cansaço aperta, a estupidez vai logo atrás. Estava aqui a ver o famoso programa da TVI "Quando o telefone toca" ou lá como aquilo se chama e a beber um copo de leite fresquinho. É tarde. O tema de hoje é profissões com a letra "i". Lá figurava arquitecto, pedreiro, médico, intérprete, contabilista. "Profissões com "i"?" Fácil, pensei eu. "Inginheiro."

5.11.07

Way beyond



Tanto estilo perturba-me, a sério.

O Agente infeccioso

Estava a braços com uma virose. Forte, incapacitadora, desmemorizante, que o ia tornando numa pessoa inconformada. Não conseguia aceder a todas as realidades da vida diária que moldavam a sua existência antes do incidente. E não se conseguia ver livre dela, mesmo com todos os anti-virais existentes no mercado. Inconformado estava também com o que ela, a sua mulher, lhe tinha feito. Ainda se recordava de todo o mal que lhe tinha inflingido. Resolveu enviar-lhe uma mensagem do site da tmn, que é à pala. As palavras, ásperas, ressequidas, rugosas, estavam prontas para ser enviadas. No preciso momento em que se preparava para premir o Enter, deu-lhe o tilt. Mensagem não enviada. A virose tinha dado cabo dele, do computador. Teve que formatar o disco. Mas a questão manteve-se: formatado o disco, devia ele agora aproveitar para formatar a vida?

3.11.07

Aceitam-se sugestões para:

Uma cor nova para os títulos dos posts


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O impacto que uma coisinha destas devia ter:

Enviar 50 sms, indiscriminadamente, para 50 números de telemóvel (de preferência não da nossa lista telefónica) com os seguintes dizeres:

"Volta para mim meu amor, tenho saudades de te ter nos meus braços, de te acariciar, de te depositar os meus beijos e olhares. Por favor, quero-te perto de mim".