29.2.08

Simone


Fotografia: www.macua.org/biografias/images/simoneol.jpg

Embevecido e arrepiado. A entrevista de Simone de Oliveira ontem à noite na Grande Entrevista foi um pico nos momentos de televisão que vi em tempos recentes (Dos poucos, também, mas isso não retira qualquer mérito). A indiferença, talvez por a ver há tantos anos nestas lides, trouxe o desconhecimento de muitas facetas da vida da artista. É uma dessas cantoras decrépitas apaparicadas pela comunicação social, pensava eu. Quão enganado estive este tempo todo. Mea culpa.

A verdade é que (não sabia mesmo) Simone tinha um vozeirão. E é uma mulher, uma grande mulher. Daquelas que dão presença, alma, e um arrepio na espinha. Uma presença magnífica. Uma senhora presença. Uma mentalidade progressista. A doença. O marido. A vida. A homenagem aos/às desconhecidos/as. As novelas. O aventar ali, em frente à Judite, de um conjunto de pressupostos e realidades acerca do país e das pessoas que nele vivem. Simone teve ainda tempo para romper com os paninhos quentes e atacar quem é contra a utilização do preservativo nos tempos em que vivemos (Apenas interrompida pela Judite). Simone deu cartas em vinte minutos, meia hora, quarenta, não faço ideia. Também não quero saber. Precisam-se de mais Simones em Portugal. Não. Portugal precisa de mais Simones.

Simone prestou ontem uma homenagem a quem sofre ou sofreu de cancro, aos pequenos nadas que se perdem com a morte de alguém próximo, a quem canta, a toda uma sociedade mas, acima de tudo, ontem Simone de Oliveira prestou homenagem a todas as mulheres. Um hino. Aplaudo de pé.

27.2.08

Depende do caudal

Acho que podemos estar relativamente descansados quanto ao decrescimento da economia na UE desde que se consiga continuar a passar multas à Microsoft.

Saber curvar ao belo



Ser, estar, querer ser diferente, querer estar diferente, fazer, não fazer por isso. Sentir assim. Tão só assim. Diferente.

Thinking of a world and the light of the sun
And all the many lives that were ever begun,
Ever begun.

Our little world turning in the blue
As each day goes there's another one new,
Another one new.

How many people will we feed today,
How many lips will we kiss today,
If we wake up?

How many worlds will we ever see,
And how people can we ever be,
If we wake up?

Thinking of a world in the light of the sun
And all the many lives that were ever begun,
Ever begun.

25.2.08

Do determinismo biológico ao fim do preconceito



E o SP, ali ao cantinho?

21.2.08

Nivea Lift ou da textura da roda

Entre outros pormenores, compreendemos que estamos a ficar velhos quando temos que fazer no registo de qualquer site um scroll extra para chegar ao nosso ano de nascimento.

Impossibilidade

Algumas palavras saem sempre melhor cantadas. Poderia estar horas a dizer-te algumas delas, mas não me soam bem, não me saem bem. É que não sei cantar. Adiciona-se a melodia ao sentido, força-se a maior densidade, ao melhor toque, pode ser que resulte. Posso dizer-te milhentas vezes como me senti ao escutar o violino na praia, numa noite de S. João (ou St. Joan, como dizem lá), e de como ao falar, ao pensar alto, em ti, a voz já não parecia tão fora de mim, estranha e descontextualizada. Mas garanto-te que pensei, no "nós". Garanto-te que passaste entre aquele ar frio, húmido, umas cordas já desfiadas, grãos de areia em tudo quanto é lado e umas cervejas bem aconchegadas. Lembro-me também que me cortei ao tirar umas azeitonas com anchovas da lata. Podia enganar-te, a bem da beleza da história, e dizer que havia uma fogueira, crepitante (palavra que adoro, bem sabes), e uns petiscos a assar. Não, não houve fogueira nenhuma, nem petisco. Nem muito bem-estar, na verdade, para além da música e das palavras, que já não saíam tão duras e agrestes. É que estava um frio do caralho. Ainda assim, pensei em ti, o tempo todo. Juro.

10 Pocket

Como dizer? O João Morcela é daquele tipo de pessoas que só põe os óculos de sol dentro de casa para tirar fotografias e as meter no Hi5.

Teatro de intervenção

Apresentou-se-me de câmara na mão, roupão e naperon na cabeça. Abraço afagante, a peça, que parecia ter sido suspendida enquanto tocou a sineta para abrir a porta, continuou. Com outra no meio. É sempre assim. Tantas peças, os mesmos actores. Parece que é a mesma companhia que as produz. O palco, sempre improvisado. Lembro-me: é sempre mais difícil representar para quem conhecemos e nos conhece bem que para desconhecidos, e desconhecidas. Não é o caso. O cravo, saído de umas Creative SoundBlaster, estava entregue a mãos divinas, e a um leitor de MP3, dos bons. Que por acaso está na minha posse. Não havia ninguém a dar palmadas e a corrigir a postura, apenas a descorrigi-la. À grande. Mas isso também não interessa nada. Importantes fomos nós, e o William, e o Jacques. O resto são favas contadas, ou melhor, narradas.

Viagens

O couch surfing é um conceito óptimo . Arriscas-te é sempre a que te roubem alguma coisa. A carteira, o relógio, ou um órgão, por exemplo.

11.2.08

See ya around, old chap

Agastado, espalha, dentro do possível, as últimas gotas de tinta disponíveis. Por ali passaram nobres palavras, imagens cinzentas, escritos de ciência. Resta pouco. Um ou outro diapositivo, um ou outro artigo de jornal, uma mensagem. Fico sempre nostálgico cada vez que troco de toner.

9.2.08

Com selo de qualidade made in Coimbra

8.2.08

O sentido dos mundos

Diz Henrique Burnay, no 31daarmada, que,

Com certeza que, das duas uma: ou Henrique Burnay não vive no Alentejo e está a mandar bitaites sobre uma realidade que desconhece profundamente, por lá passando de quando em vez, dentro do veículo olhando de cima para baixo essas aldeias perdidas, ou, vivendo no Alentejo, não se apercebe da miséria económica e cultural em que está aquela região. E de facto parece-me até que em nenhuma destas duas opções Henrique Burnay teria razão. Mas detentor de uma sapiência alentejana que me permite alvitrar dois ou três apontamentos sobre o quotidiano daquelas (que são as minhas) gentes, digo:
É de mau tom fundamentar uma incompreensão e birrinha pessoal "ao amor do Estado pela saúde" porque não se pode sacar do cigarro num café utilizando como experimento para observação uma amostra dos homens alentejanos a fumar e a beber minis e suas mulheres em casa - ou na cozinha -. Pobres dos homens alentejanos? Não. Pobres daqueles que, em altivez, não conseguem, não querem, não podem ver o que é que por ali vai. Mas eu digo o que por ali vai:
Vai uma região com o maior índice de suicídios per capita do país;
Vai uma região onde os miúdos (não são só alguns, são todos) fumam e bebem desmesuradamente, sendo que alguns deles com 21 ou 22 anos parecem ter quase 30;
Vai uma região onde não existem empregos para lá do campo ou "das vendas";
Vai uma região onde existe um índice inaceitável de analfabetismo num país, europeu, extra-europeu, seja de onde for, you name it.
A tentativa de romantizar os velhos, tristes, calados, sentandos nos seus banquinhos, só porque os fizeram ir fumar para a rua, não podia ser mais desajustada. Primeiro, porque um alentejano nunca se separa da sua mini. Segundo, porque nesses sítios a vida, tão mais difícil, é também tão mais simples. Terceiro, porque romantizar é, no geral, querer aniquilar qualquer pensamento crítico e de mudança. É a mesma coisa que ir à Índia, ver vacas no meio da rua, pedintes por todo o lado e dizer "coitadinhos", sabendo, no âmago, que não é por vontade delas que acordam com bostas à porta de casa. Fosse o cigarro no café o maior problema.
Por fim, dizer que a mim, não fumador activo, desde 1978 até ao início deste ano, nunca ninguém me tinha perguntado se havia ou não problema em ir a um café e ficar com os pulmões, e já agora, a roupa, impregnados de tabaco queimado. Lamento profundamente, isso sim, que se tenha criado uma lei com tantas excepções que, ao fim e ao cabo, está a levar à reimplantação dos fumos em todo e qualquer local de restauração. Não se faz nada a sério, por cá.