21.2.08

Impossibilidade

Algumas palavras saem sempre melhor cantadas. Poderia estar horas a dizer-te algumas delas, mas não me soam bem, não me saem bem. É que não sei cantar. Adiciona-se a melodia ao sentido, força-se a maior densidade, ao melhor toque, pode ser que resulte. Posso dizer-te milhentas vezes como me senti ao escutar o violino na praia, numa noite de S. João (ou St. Joan, como dizem lá), e de como ao falar, ao pensar alto, em ti, a voz já não parecia tão fora de mim, estranha e descontextualizada. Mas garanto-te que pensei, no "nós". Garanto-te que passaste entre aquele ar frio, húmido, umas cordas já desfiadas, grãos de areia em tudo quanto é lado e umas cervejas bem aconchegadas. Lembro-me também que me cortei ao tirar umas azeitonas com anchovas da lata. Podia enganar-te, a bem da beleza da história, e dizer que havia uma fogueira, crepitante (palavra que adoro, bem sabes), e uns petiscos a assar. Não, não houve fogueira nenhuma, nem petisco. Nem muito bem-estar, na verdade, para além da música e das palavras, que já não saíam tão duras e agrestes. É que estava um frio do caralho. Ainda assim, pensei em ti, o tempo todo. Juro.

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