11.1.08

Oh mon Dieu, c'est magnifique


Imagem: http://www.webboom.pt/ficha.asp?id=167270

Surgiu-me inesperadamente o nome de P. G. Wodehouse na “Avenida Paulista”, de João Pereira Coutinho. Por ocasião da época natalícia, propôs-se-me oferendar um exemplar a um amigo, dada a fonte segura da referência. Aproveitei para deitar os olhos nas linhas que o compunham. Surpresa e assombro. “Bom dia, Jeeves. Bom dia, senhor. Esta resposta surpreendeu-me. É, de facto, ainda manhã? É, sim, senhor.” O personagem principal apresenta-se-nos com uma ressaca monumental, divina e comicamente caracterizada. A cadeira oscilou, a expressão abriu qual flor na Primavera, e por ali adiante prossegui. Sem contemplações, sem dificuldades, fácil, é tão fácil. É riso, é gargalhadas, muitas, de todo e qualquer género. O Humor, fino, refinado, delicado, apropriado (nem sempre o melhor humor é o apropriado, e vice-versa), sinérgico à dinâmica absorvente. As metáforas, deliciosamente inescapáveis, muito à frente do seu e do nosso tempo. Com “Bertie” Wooster e Jeeves, o seu mordomo, companheiro de todas as horas, título honorífico “braço direito”, tudo é inesperadamente simples, delicioso, cúmplice.

Deste último, dizer que é detentor de uma retórica e educação irrepreensíveis, classe inigualável, imemorial, adequado, subtil, eloquente, ocasionalmente genial. A frase certa na altura certa, a citação apropriada à situação. Procura o engrandecimento cultural do seu amo que dá pelo nome de Wooster, Bertram. Este, dandy, classe média-alta, apreciador dos pequenos grandes prazeres da vida, capaz de se submeter aos maiores reptos para aceder a uma excelente e gratuita refeição, de fracas leituras mas altos valores morais (dependendo do ponto de vista), atribuía a frase “Eureka” a Shakespeare. Basta dizer que persegue, ao longo da narrativa, uma nateira de prata em forma de vaca para que não se perca o magnífico cozinheiro da casa de sua tia. Um universo aristocrático, normalmente associado a um certo cinzentismo e languidez, no qual Wodehouse foi capaz de depositar as maiores comédias.

Creio ser esta a primeira vez que escrevo sobre um livro não relacionado com trabalho. Acabei-o há pouco e já estremeço por não ter uma outra história de “Bertie” ou Jeeves disponível por perto. A Amazon já se afigura, todavia, como âncora a breve trecho. À deles!

“-Jeeves!

-Senhor?

-Mais brandy!

-Muito bem, senhor.

-E acaba lá com isso de o servir em cálices pequenos como se fosse rádio. Traz o casco.”

1 comentário:

Anónimo disse...

Pelo menos a metade que me foi possível ler, antes de passar o testemunho ao verdadeiro herdeiro...Bruno despacha-te lá com isso, já sabes que sou a primeira na lista de espera!