9.10.07

Ensejo

Assim, semi-nu, encharcado no suor de uma corrida louca, num esforço totalmente inútil de não deixar um rasto que fosse, uma molécula, um cabelo, um suspiro, uma lágrima, um grito. Que o meu recorte neste chão, escuro, sem vida, sem interstícios, sem nuances, sem dor nem prazer, denso e imutável de mim se destacasse. Assim, Noa, no meio da estrada recentemente alcatroada, ainda quente do sol que nela descansou durante todo este dia, que levou víboras e sapos e osgas e salamandras pretas com pintas amarelas a atravessarem-na e nela se depositarem, mesmo assim, sou eu o único réptil que rasteja, correndo. Rastejo-me. Hoje, de má memória, ignóbil e abjecto, apresso-me, no único acto lúcido que neste momento me ocorre, a comer as raízes, envenenadas por certo, que estiveram no assentamento de todo o mal que te fiz.

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