20.9.07

Judas?


A dizer: Ronaldo marcou ao meu Sporting e pediu desculpa, perdão, seja o que for ao público de Alvalade. A imagem é tudo, as palmas são ainda mais. Porque Milão aplaudiu Rui Costa, estando aquele a perder. Ronaldo, quando é substituído, é ovacionado por Alvalade, um estádio quase repleto de adeptos do clube que ele fez inapelavelmente perdedor.

Poderá ser de novo a mística sportinguista, aquilo que nos faz mais do que somos, mas a verdade é que emociona qualquer pessoa. E não, isto não acontece em outros estádios.

O que nos leva à questão Figo. Como já referi anteriormente, admirei-o, tanto, ou quis admirá-lo, tanto, durante uma década que se tornou, admito, uma crença cega e surda. E alguém me avisava, "olha que o Figo não é o que parece". Até àquele festejo do golo do Inter, em que me fez lembrar uma criancinha egoísta e arrogante que recebe mais um brinquedo mesmo que tenha sido roubado ao irmão de sangue. E isso não se desculpa.

O gesto do Ronaldo pode ter sido só uma questão estética, uma fotografia bonita, um momento de um rapazinho que sabemos vaidoso, mas que sempre pareceu fiel às suas origens. Mas numa altura em que nós sabemos, e acima de tudo ele também sabe, que depois de o Figo ter sido despromovido a persona non grata, os sportinguistas, mais do que nunca, precisavam de um novo referencial, eis que ele se disponibiliza para o pedestal. Alguém que estivesse lá fora, notório, conhecido, famoso, que representasse a honra, carisma, e carinho dos verdes. E oferece-se ele mesmo. Jogada estratégica? É possível. Mas ainda assim, no primeiro jogo em Alvalade da Liga dos Campeõs 2007/2008, que se cifrou por uma derrota, injusta, por 0-1 com um golo de Cristiano Ronaldo, formado na melhor escola de futebol da Europa, em cerca de dois ou três minutos, no total, foi demonstrado mais respeito e carinho que em 10 anos de carícias unilaterais a um jogador que nada fez para as merecer.
Uma nota: que não se misturem as águas. Não digo que o Ronaldo de um momento para o outro seja um sportinguista de primeira água, mas o que ficou ontem no relvado foi para além de dois momentos incríveis, um carinho, enorme, quente, e acima de tudo, recíproco. A ver vamos o que o tempo nos dirá. O que ficou ali, digamos, foi, por agora, um acordo de cavalheiros. E isso é suficiente.

P.S. Não quero comentar nem a recepção ao Nani, nem o caso do Mourinho. E apetecia-me ficar o dia inteiro a dizer maravilhas do Miguel Veloso e do Polga. Mas por agora chega, logo há mais.

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