9.9.07

Comparto-te a dor

É mar que vem e não volta, revolta. É a gaivota que não mais é avistada. É um vento que sopra na cara com a humidade do mar vizinho, pequenas gotículas salgadas e pouco mais que isso. É ir subindo a rocha que cai pela falésia abaixo, é estar na escuridão e romper pelo calcário cansado, doente e dilacerado pela cimenteira enquanto os pinheiros o avistam cada vez mais próximo da submersão irremediável, irreversível. Pode ser, também, um vislumbre do que já foste e não mais poderás ser. Do que quiseste ser e não conseguiste, porque não és só tu, não foste só tu. É um saber-te vivo, saberes-te vivo, sabe-te bem o sal, o bulício, as vibrações estrondosas, o tumulto da incerteza. Vertem-se-te as lágrimas, verte-se-te o amor, verte-se-te o desejo e o enleio das paixões idas. Verteu-se-te a vida, por aí. Porque a beleza também definha.

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