3.9.07

Ainda agora começou

E já deu para ter um cheirinho do que aí vem.

Começa por termos três jornais que vergonhosamente se auto-intitulam desportivos e não passem de jornais futebolísticos (que ainda que adore o futebol e seja efectivamente o desporto-rei, ponto), tendenciosos e desprovidos de qualquer carácter justo e louvável que não fazem jus a pessoas (Nélson Évora e Vanessa Fernandes) que se e nos elevam a patamares inauditos. A injustiça gritante das primeiras páginas desses órgãos noticiosos não pode, não deve passar em claro. Quer-se dizer, pensar que não há ninguém no mundo inteiro melhor que uma determinada pessoa a praticar e competir numa determinada modalidade (no mundo inteiro) deveria querer dizer algo. Parabéns Vanessa, parabéns Nelson, são tremendos.

Depois, a bola propriamente dita. Pois é, ainda agora a época começou e já deu para ver umas quantas coisas. A título exemplificativo, que nada se alterou relativamente aos anos anteriores. Entre outros, a Académica continua perplexamente terrível, a União de Leiria treme que nem varas verdes cada vez que o FCP passa lá por casa (já não me lembro de terem jogado a sério contra os azuis) e que, já que falamos do FCP, o Quaresma devia ter sido expulso nos últimos 2 de 3 jogos que se realizaram no campeonato nacional com agressões nítidas. Portanto, até agora nada de novo. Ah, e já me ia esquecendo, um dos golos do Porto resulta de uma bola centrada de fora do campo, não sei se isso importa alguma coisa. Por isso, e considerações à parte, apesar de tudo não estou preocupado, vou apenas ter que pensar que de facto existe justiça divina.

O Leste da Europa. Fui lá uma vez. Trouxe 3 garrafas de vinho, 2 saquinhos de paprika, 800 fotos, 2 t-shirts e dois lápis com cabeças talhadas em madeira (muito giros, por acaso). Já o Sporting, que no passado nos presenteou com Balakov e Cherbakov (só assim de repente e se a memória não me falha que talento meu Deus, que talento…) este ano trouxe o Izmailov e o Vukcevic. Falemos:

O Izmailov já ganhou um lugar no meu coração. Um golo daqueles na Supertaça, ainda por cima contra o Porto, vale ouro. É lutador e quer mesmo singrar nos leões. Sê bem-vindo meu querido, abraço-te.

Agora outra dimensão, estou em crer, que o futebol do Sporting adquiriu com a contratação Vukcevic. É caso para dizer, minha nossa! Já tinha ficado iluminado com a simulação para o Derlei marcar contra a Académica, adicionado especiarias várias com que nos foi perfumando ao longo dessa partida. Floresceu com o Porto (a sua entrada trouxe novidade) e hoje consolidou com um brilhante cruzamento para o Levezinho a meter lá outra vez. Mas não é só o cruzamento, não é só a simulação, não é só um querer, não é só uma garra, é todo um jogo que se sente a vibrar naquelas pernas, uma vontade de vencer que não era comum no Sporting (pelo menos até à chegada do Paulo Bento). O pormenor? Quando, depois de uma falta descarada que envolveu agarrões, caneladas, pataços e afins por parte do jogador do Belenenses, Vukcevic ainda consegue ganhar a bola, sair com ela jogável (como gostam de dizer os comentadores) e o árbitro marca falta, esquecendo-se (convenientemente. Ou não) de uma coisa que se chama lei da vantagem. No seguimento, Vukcevic mostra o seu natural descontentamento (daí a vontade de vencer) e ainda consegue levar um amarelo. Começou a época.

Mais dois apontamentos. Um chama-se João Querido Manha e é comentador de futebol na TVI. Que é que aquilo ainda faz num canal público? Ah sim, esquecia-me, TVI. É sempre necessário o referencial.

Dois. Bem mais importante que o anterior. Ainda soltei uma lágrima com esta história do Antonio Puerta, jogador do Sevilla. Mas sincera mesmo, sem ponta de ironia. O costume, é por ser jogador de futebol que se desenvolve todo o mediatismo associado, tal como foi com o Marc Vivien-Foé, o Fehér, o Bruno Baião, todos os que tiveram esse azar (que descansem em paz) ao contrário de tantos e tantas que não têm uma palavra dita, ou escrita, sobre si. Sim, é verdade. Mas a história, não apenas a nossa, mas também as outras histórias, que inexoravelmente se coadunam por vezes com a nossa, são feitas e escritas por homens e mulheres extraordinários que surgem em momentos também eles irrepetíveis. O de Puerta, sei-o, foi contra o Schalke 04 (ao minuto 100, no ano centenário do Sevilla) na meia-final da Taça Uefa de há dois anos com um soberbo golo de pé esquerdo. Como essas coisas me marcam, achei que a melhor maneira de render homenagem a Puerta era, antes de me deitar no dia da sua morte, ver, e ouvir esse golo. Feito. Foi lindo, também, o abraço entre os presidentes do Sevilla e do Betis, bem como toda a homenagem que se lhe prestou na comunicação social espanhola (neste caso, diário Marca) e que está disponível aqui. Lindo, mesmo lindo.

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