9.7.07

Anopheles gambiae


Sente-se ao longe. Um adejar frenético de asas minúsculas provocando um zumbido ainda distante, mas já perceptível. Está aí. Para me provocar. Para me desestabilizar. E sinto-a. Se sinto. Vem simultaneamente irritante, direccionada, inabalável, corajosa, determinada, pronta para a guerra. So this is it, my friend. Sei-o. Nos próximos quartos de hora não terei descanso. Quantas e quantas noites nesta vida. Não é insónia. Isso não. Durmo bem, mesmo bem. Mas assim não. Não dá. Faço tudo. Ligo a luz às cinco da manhã, já com duas ferroadas no corpo. O diâmetro: cerca de 2 cm cada uma. Os meus anticorpos parecem as tropas chinesas. Todas ali, à volta do veneno do inimigo, prontos a combatê-lo. Em vão. O prurido vai durar 3 horas, no mínimo.

Luz acesa, em pé, só com a t-shirt vestida (só com a t-shirt vestida) e em cima da cama, numa figura que de tão ridícula nem parece atingir o patamar do real, à procura de uma melga kamikaze. A culpa não é dela, "Desígnios genéticos meu caro", diria, se pudéssemos comunicar. Cá entre nós, a única comunicação possível seria desta com o meu chinelo. Quando fosse atingido o ponto de contacto inferior a 0,001 cm entre o anterior e a parede, com o ser voador a servir de entreposto comercial. Mas não. Nada. Eureka, "e se ligasse só a luz do telemóvel, assim durante uns 3 minutos, para a ver aproximar-se e num golpe duro, seco e misericordioso, lhe tirasse a vida?". Talvez.

Segundo acto: luz do telemóvel ligada, e lá vem ela. O mesmo som, o mesmo timbre, a mesma frequência, o derradeiro despique. "Ah sacana, é agora!". E ela lá anda. Numa tentativa desesperada, um último safanão, com a posterior fuga da infractora e telemóvel pelo chão. Gozona, afasta-se. Resta-me o lençol por cima de todo o corpo (orelhas incluídas). Por hoje leva ela a vantagem. São 6h25 da manhã. A batalha foi árdua. Perdi-a. Esta noite estão novas investidas programadas.

(img daqui)

"Nos chamados mosquitos a probóscide (tromba) está adaptada para a sucção de líquidos como néctar, seiva ou sangue. Em geral, apresentam dimorfismo sexual acentuado: os machos apresentam antenas plumosas (como pequenas árvores de natal), e as fêmeas apresentam antenas pilosas e são muito mais corpulentas; em quase todas as espécies elas alimentam-se de sangue de vertebrados (incluindo o homem) para maturar seus ovários antes de pôr os ovos. O tamanho varia, mas é raramente maior que 15 mm. O peso dos mosquitos é apenas de 2 a 2,5 miligramas. Eles conseguem voar de 1,5 a 2,5 km/h. Os mosquitos existem há 170 milhões de anos (Jurássico médio)."

Sem comentários: