18.6.07

Incerção=Escravisação
















Este instantâneo, tirado na segunda-feira passada, contém , por si só, informação da mais alta relevância. Afiançar-vos que, nos últimos tempos, escritos deste género têm sido recorrentes nas paredes dos vários edifícios da Universidade de Coimbra. Ou são contra o sistema, ou são contra a polícia, ou são contra o governo, ou são contra a Universidade em si, ou são contra os praxistas, ou são contra a venda de Twix's, M&M's, Mars, Mil Folhas e Bolas de Berlim nos bares das faculdades, ou são contra o atentado que é o consumo de carne (de resto, muito bem retratado pelo Francisco), ou talvez, sei lá, contra o facto de se ver a bola na televisão pelos milhões que os jogadores ganham, e que é uma vergonha e tal, e é melhor ver não sei quantos filmes do Lars von Trier, cultiva-te pá! À frente do so-called edifício okupado aparece ainda na parede "Estudante, vende a tua capa e enforca-te". Material literário de primeira, portanto.

No entanto, acredito piamente que esta disseminação nada tem de casual. Há uns tempos (que não sei precisar quantos) um dos edifícios da Universidade foi brindado com uns "Okupas", ou, mais especificamente daquele tipo especial de "Okupas", uma grande freakalhada, aqueles do "tá-se bem, somos uns radicais assim muita malukos, até somos vegetarianos ou mesmo veganos (que isto é à séria!) e fumamos umas ganzas e assim e coiso e tal, e temos um cão rançoso e pulguento que apanhámos na rua (melhor ainda se for só com três patas, assim ainda é mais fixe porque lhe podemos chamar tripé e assim fazer um figuraço na rua)".

No meu entender, existe aqui uma configuração muito específica deste pessoal. E o primeiro é que falharam redondamente na apropriação de um modelo que vem de lá de fora. O movimento Okupa, por si, representa um ideal que, ainda que alguns não concordem com ele, é inteiramente válido e interessante, seja a nível político, activista ou social. Acredito nisso por alguns centros okupados que conheci e me deram essa visão. A criação e dinamização de workshops em várias áreas, com um carácter de confraternização, aprendizagem e envolvimento com a população ao seu redor constituem uma mais-valia que não é de desprezar.

Gostaria eu que fosse este o caso. Mas não é. Fazem um jantar vegano às quartas às 20h, conforme um dos dois lençóis estendidos pela parede anuncia. No outro consta o mote "vamos acabar com as prisões, deitar-lhes abaixo os muros e assim". É aqui que irremediavelmente se perde a paciência. Oh sim, como eu gostaria que libertassem todos os presos da cadeia de alta segurança de Coimbra. Oh sim, como eu sonho ter a nossa cidade plena de homicidas a cada esquina a quem poderíamos recorrer no caso de querermos limpar o sebo a alguém. Ou até um pedófilozinho, que agora até está na moda, ou qualquer coisa assim porreira e marada. Tantas ideias boas, e acabam a pintar paredes (ainda se fossem o Banksy) com os tais erros ortográficos que não lembram nem ao diabo.

. Já vi casas okupa com muita pinta, muita atitude e acima de tudo muito úteis no projecto que defendem, nos ideais que aspiram. Não é o caso. O que se tem visto são dizeres deste género, putos que pensam que isto é uma coisa super cool, que rejeitam a Universidade, rejeitam o sistema, rejeitam as leituras e acabam a escrever assim. Particularmente aos autores, recomendo este site.

p.s. Isto faz-me lembrar os tempos de faculdade, em que ao escrito na mesa "Praxistas tremam!", um grande amigo atira com "Porquê? A capa é tão quentinha!"

3 comentários:

Girolamo Savonarola disse...

A escola, às vezes, ensina-te a escrever incere-te com um s no lugar do c.

Professor O. disse...

E esqueces-te que a maior parte ainda são financiados pelos pais que estudaram e trabalham nos sítios que eles desprezam.

B disse...

Xeque-Mate!