30.5.08

Incrível é isto

A Ana e o Eduardo e o Pacheco e seja lá quem for só estão a perder uma piquena alínea: tão ou mais previsível que o maremoto mediático que se vive à volta da Selecção Nacional era virem inevitavelmente associadas as tradicionais críticas a tal fenómeno gerado pelo "povão". A saber: também não me interessa a dieta dos jogadores, o que gostam mais de ler logo pela manhã (as hipóteses, de qualquer maneira, não serão muitas - Record, A Bola, O Jogo), o que fazem nos tempos livres, o que não fazem nos tempos livres, o que vestem, que número calçam. Mas daí a começar com a sistemática conversa do "acicatar do entusiasmo popular e do patriotismo bacoco" já é, de um certo ponto de vista, perda de tempo.
Os/as illuminati que por aí andam, a reboque das noções de "este país não sabe nada, não aprende e afins" esquecem-se, entre outros pormenores, que este é um fenómeno global e diria mais, europeu, até. Inclusivamente em países evoluídos como a França, a Espanha, a Suécia (que, a propósito dos/as fãs da superioridade intelectual e social dos nórdicos, fiquem desde já sabendo que o grande evento anual deles é o Eurofestival da Canção cuja música vos deixo em epígrafe), a Alemanha e os outros todos que estão lá.
E portanto, goste-se ou não de Scolari, goste-se ou não do destaque dado à Selecção, três coisas neste momento são certas: uma é que à primeira vitória da Selecção estarei, como tem sido costume nos últimos eventos desportivos, com o meu barrete, cachecol e techerte na Praça da República acenando vigorosamente aos veículos que passam. Pode ser que esteja lá outra vez o pessoal da carrinha com a imagem da Nossa Senhora no capot. Dois, que quem não quiser ver tem, como eu tenho, a hipótese de mudar de canal. O facto é comprovável por viver em Portugal e, à excepção dos jornais desportivos online que leio com fervoroso deleite, não ver mais nada que se relacione com a selecção há mais de 3 dias. Três, para deixar aqui um xeque-mate às pseudo-intelectualidades desconhecedoras da possibilidade cósmico-neonizada de conhecimento e bola se poderem coadunar, deixar tão só o dito que o Derrida, antes de ser "0" Derrida, queria ser jogador da bola.
Tenho dito. Força Portugal.


9.5.08

Manual do bom conservador

Insultar a mulher de um amigo e pedir-lhe desculpa a ele.

2.5.08

A tua

É bem verdade, como diz o Francisco, que já não é a mesma coisa. E não. Muito se perdeu com o passar dos anos, naquele tempo é que era, o espírito era outro. Mas já deves ter ouvido tudo isso. Vou tentar, dentro do que me é permitido, não me lembrar de tudo o que é negativo e já não faz parte desta festa, que foi outrora bela, meaningful. Apesar de tudo o que te tenho dito, e do que já me ouviste dizer, para mim, este ano, não tem importância tudo o que não há de bom. Por uma única razão: é a tua queima. Muitos parabéns Andreia Paulinha.

Quem é amigo?

Apoios de milhões de euros aos desempregados pouco eficazes

Na viragem da década, o Estado gastou muitos milhões de euros em políticas de apoio à reintegração de desempregados no mercado de trabalho com efeitos quase nulos. Esta é a conclusão central de um estudo publicado recentemente pelo Banco de Portugal, onde são analisados dois programas específicos vocacionados para apoiar jovens e adultos.

Sim, lembro-me bem do que é estar desempregado. Também me lembro bem desses programas miraculosos que o Governo, através dos Centros de Emprego (CE), propõe às pessoas. Lembro-me particularmente bem de me terem "proposto" uma formação sobre Novas Tecnologias da Informação de 560 horas, em que na primeira aula se explicou o programa do curso. O sobressalto surgiu assim que a senhora ao meu lado ouviu falar em Internet e se limitou a perguntar "mas o que é isso da Internet?!". Pegou no rato e disse "mas a seta sai da televisão!". Há cerca de 5 anos.
Juntam pessoas de 20 e poucos anos, acabadas de sair da Universidade, com pessoas que desempenharam trabalhos manuais numa fábrica durante 35 anos. Não se adequam programas, não se fazem triagens para uns e outros trabalhos. É desempregado/a? Siga para o mesmo tacho, são inválidos/as e precisam de formação.
Também me lembro de querer pedir subsídios. É. Subsídios que, se a eles fosse possível recorrer em tempo útil de vida dariam apoio para criar o nosso próprio emprego. Burocracias que demoram meses a ser tratadas. Um centro de emprego que muitas vezes dificulta mais do que facilita a obtenção de emprego. "Sessões de esclarecimento" que mais não fazem do que atirar poeira para os olhos das pessoas, fazendo crer que, apenas com persistência, lá "conseguirão chegar, oh olhem para mim como exemplo".
Lembro-me bem da humilhação que se sofre nos CE, de funcionárias arrogantes que perguntavam "já fez formações? De certeza que ainda não fez nenhuma". "Já sim senhora, 7 desde que fiquei desempregado". "Já enviou CV's? aposto que ainda só enviou 3 ou 4!""Já sim senhora, cerca de 120". "Sabe fazer um CV?" "Sei sim senhora, tenho aqui alguns para ver". Entra-se num CE e somos todos diferentes, todos iguais, meta-se tudo no mesmo saco. Gastam-se milhões mal gastos? Pois gastam. Sentir, só uma coisa: que às vezes é um golpe de sorte entre o tudo e o nada. O que só torna isto mais assustador.
Em bem da verdade, as políticas do Estado, embora bem intencionadas não conseguem mais do que isto: sustentar Centros de Emprego que mais não são que meros paliativos.