28.1.08

Chamamentos (ou da inverdade na ficção)

Custa a acreditar. Nas séries de terror, os fantasmas, as almas, os não-vivos, enfim, são sempre chamados por uma qualquer prece em latim, Omnimus sirigaitis etcaetera et pluribus unum primus inter pares in nomine caesaris, e mais minuto menos minuto, lá estão eles a responder, invariavelmente, ao chamamento. Armados até aos dentes, ou apenas com um mau feitio muito grande, já se sabe que alguém vai morrer afogado, com uma enxada na cabeça ou com os pauzinhos do chinês enfiados pelas narinas acima. Contudo, creio haver aqui dois contra-sensos básicos:

Por um lado, se eu tivesse que chamar um fantasma a partir de um livro escrito em latim, com certeza que haveria falta de comparência, obviamente penalizada com três pontos negativos, pois a minha leitura do mesmo seria tão risível e incompreensível que as alminhas re-morriam a rir em vez de vir matar alguém. O que, claro, nos traz à questão: porque é que respondem sempre aos amaricanos, que quando os ouvimos a falar parecem uns leitõezinhos simpáticos a grunhir enquanto têm vitaminas para desfazer por baixo da língua?

Por outro, pergunto: será que têm mesmo que responder sempre à convocatória do seleccionador? Para assassinar, na esmagadora maioria dos casos? Não podem eles ficar descansadinhos, na sua meia-vida? A fazer tricot, jogar damas, qualquer coisa do género? Pede-se um pouco de respeito pela liberdade de opinião e comportamento de qualquer género de entidade. Até parece. Quando me chamam para ir comer a sopa, em português bem explícito, isso não quer dizer que eu vá logo feito cachorrinho já com a colher na mão, pois não?

Deve ser com Fairy Ultra

Pode não saber o que está a perder, mas para quem este trabalho é "tão pesaroso como lavar copos ressequidos com mokambo", não se porta nada mal.

25.1.08

Perspectivas

Não sou incompreensível. Sou, isso sim, incompreendido.

Bom dia

24.1.08

80%
Jovem, adulto, jovem adulto, meia-idade ou sénior (que hoje em dia não se pode dizer idoso, é sénior. Muda-se a palavra, a atitude com a velhice permanece a mesma, i.e., uma merda), permite-me o tratamento familiar: se gostas de emoção, cultura, novidade, novidade na cultura, e precisas de mudar de ares, NÃO venhas viver para Coimbra. Vai para Estarreja que tem uma política cultural de maior visibilidade a nível nacional. No entanto, se, por qualquer infelicidade, acabares por te arrastar até à Lusa Atenas, ou mesmo se nada tens que te relacione a esta, subscreve, num acto de cidadania pura, este texto para acabar com a letargia vigente da cultura na CMC.
p.s. 80% é a percentagem de redução do orçamento dedicada à cultura na CMC de 2004 até hoje.

22.1.08

Não dá para perceber*

No final do jogo do Porto para a taça o Quaresma atira contra tudo e todos, manifestando o seu desagrado quanto aos assobios, aventando ainda a hipótese de "no fim da época já não vão ter que assobiar. Vamos de férias".
O adepto sportinguista, talvez até o benfiquista, pensam, esfregando as mãos de contentes: "porreiro pá (sem referências ao abraço), o gajo vai-se embora."
Mas o que o adepto sportinguista e benfiquista se esquecem é que aquilo não é o Sporting nem o Benfica. É o Porto. E no Porto não se brinca. O Quaresma desagradado? Não pode ser. Renove-se-lhe o contrato e adquira-se o resto do passe. And that's that.
*Na verdade, dá. Perfeitamente.

Forget about tonight. Forget it. (Jimmy Conway (Robert de Niro) em Goodfellas, realizado por Martin Scorcese)

Na cena em questão, um jogo de póquer among goodfellas, Jimmy Conway diz a Henry Hill (Ray Liotta), em surdina, para esquecer o plano que tinham orquestrado para essa noite, o assassínio de Morrie Kessler (Chuck Low). Faz pensar o monólogo que se segue, no qual Henry reflecte acerca da vida de Morrie, dizendo que este nem fazia ideia de que a sua morte esteve por um fio, por uma palavra, e aquele, ali, alegre e inocentemente, jogando às cartas.
A analogia é simples. Deveríamo-nos preocupar mais com aquilo que desconhecemos que com o que está no nosso conhecimento, tomado como certo e, qual extrapolação idiota, no nosso controlo. É assustador tentar compreender o incompreensível. Aquilo que não depende da nossa vontade.
p.s. um pequeno aparte. Morrie acabou mesmo por ser assassinado nessa noite.

21.1.08

"Então e porque é que não se proíbem as lareiras?" Fátima Campos Ferreira no Prós e Contras acerca da lei do tabaco

O José Sá Fernandes não está a ser demagógico. Não. Não. Não. O José Sá Fernandes é fumador. O José Sá Fernandes não sabe a fórmula do monóxido de carbono. O José Sá Fernandes não faz ideia sobre o que está a falar. O José Sá Fernandes é mal-educado. A senhora que está sentada ao lado do José Sá Fernandes não é demagógica. Não. Não. Não. A senhora que está sentada ao lado do José Sá Fernandes não dá uma para a caixa.

Poupem-me.

Ainda por cima estou a ficar mesmo irritado com isto.

O Francisco George é um senhor. Sabe muito.

A senhora parece que se chama Fátima Bonifácio e, a meio da segunda parte, acabou de dizer que já não lhe apetece discutir mais pois já expôs a sua posição. E recuperou a história das lareiras da Fátima Campos Ferreira.

16.1.08

Eppure si muove

"Tinham já chegado a tal ponto que, se alguém se detinha a escutar os seus projectos sem se rir, em vez de ficarem contentes, lançavam-lhe olhares de esguelha, não de desconfiança, mas de ódio. Porque o escárnio dos outros tornara-se o ar que o seu sonho respirava. Se lhes faltava o escárnio, corriam o risco de sufocar"

[Luigi Pirandello, Um, Ninguém e Cem Mil, p. 74]

12.1.08

Não é suposto ser assim

Entre um café e um cigarro, lá fora, como é óbvio, converso com um amigo acerca da (de difícil compreensão) durabilidade saudável de Manoel de Oliveira e de como aos 99 anos acabou de lançar outro filme. Contudo, o que me abalou mais foi ouvi-lo, à conversa com o Carlos Vaz Marques na TSF, assegurar que tinha outros projectos na cabeça.

11.1.08

Oh mon Dieu, c'est magnifique


Imagem: http://www.webboom.pt/ficha.asp?id=167270

Surgiu-me inesperadamente o nome de P. G. Wodehouse na “Avenida Paulista”, de João Pereira Coutinho. Por ocasião da época natalícia, propôs-se-me oferendar um exemplar a um amigo, dada a fonte segura da referência. Aproveitei para deitar os olhos nas linhas que o compunham. Surpresa e assombro. “Bom dia, Jeeves. Bom dia, senhor. Esta resposta surpreendeu-me. É, de facto, ainda manhã? É, sim, senhor.” O personagem principal apresenta-se-nos com uma ressaca monumental, divina e comicamente caracterizada. A cadeira oscilou, a expressão abriu qual flor na Primavera, e por ali adiante prossegui. Sem contemplações, sem dificuldades, fácil, é tão fácil. É riso, é gargalhadas, muitas, de todo e qualquer género. O Humor, fino, refinado, delicado, apropriado (nem sempre o melhor humor é o apropriado, e vice-versa), sinérgico à dinâmica absorvente. As metáforas, deliciosamente inescapáveis, muito à frente do seu e do nosso tempo. Com “Bertie” Wooster e Jeeves, o seu mordomo, companheiro de todas as horas, título honorífico “braço direito”, tudo é inesperadamente simples, delicioso, cúmplice.

Deste último, dizer que é detentor de uma retórica e educação irrepreensíveis, classe inigualável, imemorial, adequado, subtil, eloquente, ocasionalmente genial. A frase certa na altura certa, a citação apropriada à situação. Procura o engrandecimento cultural do seu amo que dá pelo nome de Wooster, Bertram. Este, dandy, classe média-alta, apreciador dos pequenos grandes prazeres da vida, capaz de se submeter aos maiores reptos para aceder a uma excelente e gratuita refeição, de fracas leituras mas altos valores morais (dependendo do ponto de vista), atribuía a frase “Eureka” a Shakespeare. Basta dizer que persegue, ao longo da narrativa, uma nateira de prata em forma de vaca para que não se perca o magnífico cozinheiro da casa de sua tia. Um universo aristocrático, normalmente associado a um certo cinzentismo e languidez, no qual Wodehouse foi capaz de depositar as maiores comédias.

Creio ser esta a primeira vez que escrevo sobre um livro não relacionado com trabalho. Acabei-o há pouco e já estremeço por não ter uma outra história de “Bertie” ou Jeeves disponível por perto. A Amazon já se afigura, todavia, como âncora a breve trecho. À deles!

“-Jeeves!

-Senhor?

-Mais brandy!

-Muito bem, senhor.

-E acaba lá com isso de o servir em cálices pequenos como se fosse rádio. Traz o casco.”

8.1.08

Qual quê amigo, não há problema nenhum

Tenho algumas dificuldades em entender como é que o Armando Vara consegue manter dois lugares de gestão, um num banco público e outro no privado (CGD e BCP, bancos concorrentes) quando eu nem posso passar um recibo verde para ganhar 300€ a mais.
Uma pequena atençãozinha também para o pagamento, em suaves prestações mensais e durante 14 meses, de 9 euros decorrentes dos acertos a algumas pensões. Que felizes devem ter ficado os velhotes.

6.1.08

Dakar

A suprema ironia é que aquele anúncio da Galp em que Carlos Sousa e seu co-piloto galgam umas dunas a pé acabou por não ficar assim tão distante da realidade.

4.1.08

Resoluções de Ano Novo #2

Começar a escrever a sério num blog. Ou começar a escrever num blog a sério.

Resoluções de Ano Novo

Refilar. Refilar. Refilar muito com quem normalmente ninguém refila. Em dois dias pedi duas vezes a rescisão de contrato com a Netcabo. Nesta sequência, consegui uma mensalidade totalmente gratuita do telefone com chamadas grátis para todas as redes fixas (para a mãe ligar aos avós) e ainda um desconto de 8,5€ na factura da Net. Isto para além do já antigo desconto de 5€ no pacote clássico.

O próximo passo é tentar rescindir com a TMN. Desejem-me sorte.